sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Repolitizar a Política

A NECESSIDADE DE REPOLITIZAR A POLÍTICA A Política deveria ser, um valor intrínseco fundamental de qualquer cidadão. A vida em sociedade supõe a participação cívica, quer nos partidos, quer noutros espaços de reflexão crítica, como as associações, as escolas, os hospitais ou outro tipo qualquer de organização dos cidadãos. O distanciamento entre os cidadãos e as instituições só pode levar à morte cívica. Por isso, urge politizar o quotidiano. De facto, mesmo numa análise superficial do fenómeno político nos conduz a esta evidência: os cidadãos afastaram-se e afastam-se da Política. É urgente procurar as causas deste divórcio que parece querer tornar-se irremediável. Estas causas parecem radicar no discurso dos políticos “profissionais”, sempre distantes do sentir concreto das pessoas, e, ao mesmo tempo, em fenómenos de indefinição partidária (“são todos iguais”) e, mesmo de indefinição ideológica global, confundido esquerda e direita. Como retornar à cidadania “de facto”? É urgente o diálogo crítico permanente, a vivência democrática saudável, com partidos que vivam e respirem com os cidadãos, tendo sempre em conta o viver e o sentir dos eleitores. Os campos extremaram-se e hoje, perdido o sentido da politicidade, é comum ouvir-se a comparação da política com o proxenetismo, o que não deixa de ser dramático para a vivência democrática saudável. “Quem tem nojo da Política é governado por quem não tem. É necessário repolitizar a política, aproximando-o do seu campo vital: os cidadãos. Como? Refazendo ou refundando os discursos, aproximando-os da vida e afastando o tom tecnocientífico e inerte dominante, marcando os campos das lutas pela igualdade de direitos e de oportunidade para todos. Se a sociedade não se empenhar na educação política dos seus cidadãos, em breve teremos parlamentos e executivos ocupados apenas por maus políticos.

Os rankings em questão

No “Top 20 do ensino secundário”, correspondente a 2012, aparece o subtítulo no Expresso “Públicas fora das vinte primeiras”, a secundária Infanta D. Maria em Coimbra, volta a ser a primeira pública a aparecer no ranking. Está em 21.º No ano passado ocupava a 15.º posição, o que, só por si, revela a visão dominante de quem apoia a seriação das escolas e a sua publicitação. Uma leitura subliminar ou conotativa indica-nos imediatamente que “o ensino privado é que é bom”, que “as escolas públicas não têm qualidade mínima”, que os cidadãos que não tiverem dinheiro para colocar os filhos num colégio privado, podem ficar já a saber que não verão os seus filhos ou educandos atingir os objetivos que para eles desejam. Esta visão pode parecer redutora mas é dominante na comunicação social e nos meios urbanos e revela a tendência das instituições escolares para a elitização. Até se fala hoje em “pedagogia do exame”, tornando-o o centro do sistema em vez de mero instrumento de aferição da consecução dos objetivos traçados. “A escola coloca os alunos numa situação análoga aos dançarinos do filme Os cavalos também se abatem premiando os que estiverem na pista mais tempo” (Philippe Perrenoud). Uma análise mais pormenorizada desta seriação indica-nos que, das vinte escolas situadas no top, apenas cinco não pertencem às áreas urbanas de Lisboa ou Porto e, mais ainda, nenhuma pertence aos distritos de Trás-os-Montes, Beiras, Alentejo, Algarve ou Regiões Autónomas. Mas há sempre a possibilidade de vários olhares sobre os rankings e de várias críticas, como a possibilidade de distinguir entre alunos internos e alunos externos (ou propostos a exame) ou de escolher as melhores notas de alunos que se apresentaram a exame nas duas fases. O essencial, todavia, da crítica a fazer às seriações tem a ver com a descontextualização das escolas, isto é, fazer médias sem sabermos de que estamos a falar. A eficácia, isto é, o resultado em si mesmo, independentemente das condições de partida e de outras, passa a ser o valor que importa destacar. Se os alunos são de um meio socialmente desprotegido, se têm famílias iliteratas, se não têm ou nunca tiveram livros em casa, se têm de trabalhar antes ou depois dos horários escolares, etc., não importa, isso é completamente escamoteado na seriação; se os alunos com problemas de aprendizagem não são aceites na instituição ou são convidados a sair; se os alunos problemáticos são convidados a anular a matrícula e a candidatarem-se aos exames como externos, etc., isso não importa. A escola integradora, capaz de absorver as diferenças, de desenvolver e formar seres humanos e cidadãos com espírito crítico morre aqui, em nome da tal eficácia que trabalha para o ranking. Mas há mais ainda, nesta empresa-escola: que dizer de um piloto de uma transportadora aérea que só consegue colocar no destino 80% dos passageiros? Onde está o parâmetro constitucional de consecução dos objetivos essenciais da educação ou do direito a ela? Como colocar nos primeiros lugares uma escola que afasta em vez de integrar e que só conseguiu posicionar nas primeiras posições 80% dos alunos? A seriação das escolas, criando discrepâncias sem sentido, estigmatizando os mais pobres e com menos recursos, é uma escola sem sentido cívico. A maioria da população, habituada às classificações futebolísticas, desconhece as incongruências destas listas. Como vivemos numa terra cheia de desigualdades e num território cada vez mais desequilibrado, os rankings refletem um testemunho das desigualdades da nossa terra, do nosso país, onde o interior está fora do topo. E quando mais de meio milhão de crianças pobres frequentam o ensino público e dependem do estado para terem livros, material escolar e uma refeição diariamente estamos a discutir rankings? Lembremos que vários países que tinham divulgado rankings das escolas, deixaram de o fazer, entre os quais, vale a pena citar a Dinamarca, a Austrália e, no Reino Unido, a Escócia. O abandono dessa prática leva-nos a relativizar a seriação de escolas, a que tanta importância se tem dado no nosso país.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Contributo para o plano de desenvolvimento económico

Homenagem a Celso Emílio Ferreiro - escritor galego

Contribuição para o plano de desenvolvimento económico

- Índices estatísticos

O meu país predilecto

limita o norte com os ventos alíseos,
ao sul com um arrabalde de Buenos Aires
e com o porto de Hamburgo;
ao leste com três pombas mensageiras
ao nordeste com a terra de ninguém.

O meu país predilecto é um império
de coisas nunca vistas:
os homens vivem fora da lei da gravidade
mas conhecem muito bem a lei do funil
e o principio do cacete e do fueiro.

Um país que vive por milagre.

Produz ao ano precisamente doze meses
e três mil romarias a S. Roque.
Quinhentas toneladas de cotovias,
setecentas de grilos,
vinte de borboletas
e sete de tabaús incontrolados.