terça-feira, 15 de abril de 2014

REPENSAR A POLÍTICA

Grita bem alto para não seres enterrado vivo. Provérbio grego Para os gregos, o projeto político não era sobreviver, mas viver bem, e, quem sabe, aproximar-nos do mundo eterno, do próprio divino. A Modernidade, aproximando o privado e a natureza à política, anuncia uma específica despolitização. O mundo moderno é o mundo sem a política, o mundo da economia e das condições da sobrevivência. “Sobreviver ainda é um projeto político, ou melhor dizendo, em Arendt, é um projeto da negação da política”. A Política deveria ser, um valor intrínseco fundamental de qualquer cidadão. A vida em sociedade supõe a participação cívica, quer nos partidos, quer noutros espaços de reflexão crítica, como as associações, as escolas, os hospitais ou outro tipo qualquer de organização dos cidadãos. O distanciamento entre os cidadãos e as instituições só pode levar à morte cívica. Por isso, urge politizar o quotidiano. De facto, mesmo numa análise superficial do fenómeno político nos conduz a esta evidência: Os cidadãos estão zangados, protestam, ficam desapontados e acabam por voltar as costas à política. É urgente procurar as causas deste divórcio que parece querer tornar-se irremediável. Estas causas parecem radicar no discurso dos políticos “profissionais”, sempre distantes do sentir concreto das pessoas, e, ao mesmo tempo, em fenómenos de indefinição partidária (“são todos iguais”) e, mesmo de indefinição ideológica global, confundido esquerda e direita. O descrédito em relação à democracia aumenta, na população, com o crescimento da desigualdade social, ao passo que a participação política decai. A abstenção eleitoral concentra-se sobretudo nos desempregados e nos pobres, porque não conseguem respostas à sua marginalização social e indiferença por parte da classe politica. Assistimos hoje a um decréscimo de militância partidária. Os grandes partidos sofrem uma dramática quebra de militância. Como retornar à cidadania “de facto”? É urgente o diálogo crítico permanente, a vivência democrática saudável, com partidos que vivam e respirem com os cidadãos, tendo sempre em conta o viver e o sentir dos eleitores. Os campos extremaram-se e hoje, perdido o sentido da politicidade, é comum ouvir-se a comparação da política com o proxenetismo, o que não deixa de ser dramático para a vivência democrática saudável. O discurso demagógico comanda: - “Hei! Já chegam melhores dias, estamos a melhorar a olhos vistos!” Do quinze fomos ao cinco mas estamos a subir, quase a chegar ao sete quase ao oito, quase ao nove!” E um povo que não pensa não se lembra já que nove é menor que quinze se lhe dizem que nove é maior que cinco. Que este é o país que deus nos deu. “Quem tem nojo da Política é governado por quem não tem. É necessário repolitizar a política, aproximando-o do seu campo vital: os cidadãos. Como? Refazendo ou refundando os discursos, aproximando-os da vida e afastando o tom tecnocientífico e inerte dominante, marcando os campos das lutas pela igualdade de direitos e de oportunidade para todos. Se a sociedade não se empenhar na educação política dos seus cidadãos, em breve teremos parlamentos e executivos ocupados apenas por maus políticos. Mas, como escreveu Bertolt Brecht: Muitas coisas são necessárias para mudar o mundo: Raiva e tenacidade. Ciência e indignação. A iniciativa rápida, a reflexão longa. A paciência fria e a infinita perseverança. A compreensão do caso particular e a compreensão do conjunto. Apenas as lições da realidade podem nos ensinar como transformar a realidade.