segunda-feira, 4 de julho de 2011

RUMO A UM NOVO PARADIGMA – A COMPLEXIDADE DO HUMANO

Edgar Morin defende que devemos efectuar uma categorização (não definitiva, é claro) dos princípios que comandam ou controlam a inteligibilidade complexa e resume estes princípios numa expressão inovadora, a que chama “paradigma de simplificação” e “12 mandamentos para um paradigma da complexidade”. Estes conceitos de simplificação e de complexidade abrem novos caminhos nas metodologias científicas, sobretudo nas chamadas ciências humanas, na medida em que Morin propõe caminhos de complexidade e de incerteza, em vez das certezas clássicas inscritas no pensamento dedutivo, segundo o modelo matemático.
Os conceitos de simplicidade e complexificação significam uma ruptura com a filosofia de Descartes e a sua visão das ideias “claras e distintas”, apresentadas no seu livro “O Método”, onde partia da célebre frase “cogito, ergo sum” (penso, logo existo”), para fundar toda a sua racionalidade. “A certeza do “cogito” vem do facto, escreve Descartes, de que eu vejo claramente que, para pensar, é preciso existir. A clareza e a distinção são os critérios da verdade. Mas quem me garante que esta certeza não é ela mesma ilusória? Como sair da solidão do “cogito” e assegurar-se da existência do objecto dos meus pensamentos?”
Ora, este racionalismo cartesiano é demasiado simples para a complexidade do pensamento e das ciências contemporâneas. E Edgar Morin vai propor um outro “Método” em que, em vez da linearidade da clareza e distinção das ideias, propõe o corte com o racionalismo cartesiano e o aparecimento de um novo paradigma, o da complexidade. À clareza e à distinção opõe o fechamento e a obscuridade, complemento da claridade. A posição cartesiana de que as ideias claras e distintas são um sinal da sua verdade é substituída pelo paradigma da complexidade e o projecto transdisciplinar. Escreve Morin que o verdadeiro debate é entre simplificação e complexidade.
O que propõe Edgar Morin? Ao contrário de Descartes, para quem a realidade devia aparecer de um modo simples, claro e distinto e a ciência ser, por assim, dizer, deduzida, como num raciocínio matemático, Morin diz que a realidade é complexa, una e múltipla, ao mesmo tempo, feita de desordem e ambiguidade, de lacunas e incertezas e, por isso, ou também por isso, nunca poderá ser conhecida de maneira exaustiva.
Este novo paradigma aproxima-se da complexidade do humano, feito todo ele, também, de obscuridade e incertezas, de ordem e desordem, de caos e ordem. Assim, as ciências da educação, por exemplo, integram este campo feito de simplificação e de complexidade, isto é, de lacunas e ambiguidades, tal como todos os seres humanos. A complexidade apresenta-se, assim, como um desafio à inteligência, na medida em que constitui um tecido de acontecimentos e acções que constituem o nosso mundo.
O novo paradigma proposto por Edgar Morin, na medida em que ultrapassa o campo científico do racionalismo e do positivismo, ao introduzir a complexidade e a dúvida onde havia apenas a simplicidade e a certeza, a experimentação e a dedução, vem trazer uma luz nova ao campo científico, feita de obscuridade e dúvida, como se fosse um espelho do próprio homem.

Avaliação

A avaliação é uma construção
Uma casa a fazer: criatividade
Um olhar sobre ela: subjectividade
E a objectividade ali: a casa concreta
Frente ao sol, suportando a tempestade

Vemos o mundo e sabemos
Como muda o nosso olhar
Por exemplo, sobre o mar

Há sempre um lado de nós
Que vê o mundo a seu modo
Como o mar não é o mesmo
Visto de um barco de pesca
Ou de um famoso cruzeiro,
Iate, navio ou veleiro…
E, ao mesmo tempo, é sempre ele:
Água e sal, vento e vida aos milhões,
Dois terços do nosso Planeta
Mas para dizermos que é mar
Temos de o analisar, escrever, ver ou olhar
Filmar ou fotografar…
Senão é uma simples ideia
Que no universo vagueia!