quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Filme: Manuel, o filho emprestado


Filme: Manuel, o filho emprestado

Pelo meu olhar do filme, fiquei com a percepção que as várias ocorrências decorrem na década 1970/80, pelo vestuário dos intervenientes, da envolvência, e por todas as situações com que se desenrolam os muitos e variados temas que na referida década estavam em debate.
Na Europa e no Mundo tudo era motivo de debate nos mais diversos sectores da vida social tais como: As ideologias politicas, os exilados, o combate ás ditaduras, as desigualdades de género, os direitos dos trabalhadores, os fluxos migratórios, a delinquência juvenil, o analfabetismo, a sexualidade, os currículos escolares e o poder coercitivo dos docentes, as revoluções e guerras que iam ocorrendo por todos os cantos do planeta e criavam ícones revolucionários, as questões ambientais, nunca em tão pouco tempo houve transformações nas sociedades e nos modelos políticos vigentes.
“Manuel, o filho emprestado” é uma história simples com um olhar com lentes de alta graduação sobre muitos e variados temas do imaginário português que ocorre numa comunidade portuguesa no Canadá: a igreja, as procissões, os cafés, as padarias, simbolizam a nossa cultura que se encontra espalhada por todos os cantos do Mundo.
O filme atinge momentos de grande intensidade dramática na cena em que o pai do Manuel reconhece que, não obstante um relativo sucesso económico, ou talvez por isso mesmo, dada a falta de tempo para prestar atenção ao crescimento dos filhos e ao evoluir do mundo à sua volta, a sua vida é um fracasso. Ou ainda na parte final quando o velho sapateiro anarquista, confrontado com inadiáveis opções a tomar relativas ao futuro escolar do rapaz, aceita finalmente abdicar do seu orgulho e reconhecer que, na vida, entre a utopia e a realidade há todo um mundo de cedências e compromissos a navegar.
O final do filme é excelente pela mensagem que nos é enviada pelo Manuel (“eu teria feito o mesmo que o pastor”) em contraponto com as utopias do velho anarquista e as suas memórias revolucionárias da Guerra Civil de Espanha. Soeiro Pereira Gomes numa simples citação da sua obra Esteiros diz “os filhos dos homens que nunca foram meninos”, serve perfeitamente para definir “o filho emprestado”.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O ciclo sociocultural de Abraham Moles




Neste ciclo os quatro elementos fundamentais são representados por rectângulos. O MACRO-MEIO representa a massa, a sociedade no sentido mais geral, da qual todos fazem parte. Mesmo o CRIADOR faz parte dessa sociedade; a sua criatividade é a sua capacidade de produzir ideias novas; emite mais mensagens do que aquelas que recebe. O CRIADOR exerce a sua actividade em todos os domínios – técnico e artístico – é aquele que age. A sua acção exerce-se sempre, primeiramente, num MICRO-MEIO que é um dos sub-conjuntos da sociedade, formado, por exemplo, pelos especialistas de uma disciplina qualquer, por aqueles que têm os mesmos gostos e os mesmos conhecimentos. Estes MICRO-MEIOS vão desde as sociedades de cientistas, às associações desportivas – são as corporações de outrora, as associações de hoje – que a introduzir têm os seus modos de comunicação e de circulação das ideias e que põe à experiência os contributos dos colegas e confrades, antes de os deixarem circular pelo grande público. E isto através dos MASS -MEDIA que são, tradicionalmente, a imprensa, o cinema, a rádio e a televisão. Mas estes MASS-MEDIA não funcionam em circuito fechado pela simples iniciativa dos criadores. Existem também os mediadores que escolhem, filtram, orientam e tomam uma DECISÃO em função de VALORES de pressões ou de interesses.
O ciclo funciona da seguinte maneira: a CULTURA DE MASSA viva e adquirida – espécie de bagagem comum de uma dada sociedade – banha o CRIADOR de ideias de toda a espécie, a partir das quais ele cria OBRAS OU PRODUTOS NOVOS. Esses produtos e ou criações podem ter logo uma «acção sobre o mundo», podem ter logo aplicações técnicas precisas, antes mesmo de serem postas em circulação no ciclo, através do MICRO-MEIO. A ideia nova ou a criação é analisada, julgada, avaliada, antes de ser filtrada no QUADRO SOCIO-CULTURAL, uma espécie de filtro em que as malhas são compostas por todo o saber da humanidade e que se modifica por estratificação, pelo contributo de acontecimentos exteriores e cumulativos (historicidade).
Uma vez que essas ideias novas e essas criações foram aceites e «produzidas» pelos MASS-MEDIA tornam-se PRODUTOS CULTURAIS bastante semelhantes aos outros produtos de consumo, obedecendo a certas leis do mercado e finalmente, são lançadas no MACRO -MEIO isto é, na sociedade, a qual vão necessariamente modificar. E o ciclo recomeça. A única coisa que pode variar é «a velocidade da circulação das ideias» e A. Moles pergunta-se se é «possível e desejável acelerar ou diminuir a velocidade de rotação deste ciclo.»

REFLEXÃO

Numa altura de particular pressão consumista, a que os bens culturais naturalmente não escapam ilesos, importa reflectir sobre até que ponto todos nós consumidores de bens e serviços culturais e criativos, estamos a efectivamente a exercer o nosso livre arbítrio e fazemos as nossas próprias escolhas de forma independente e consciente, num domínio em que a variedade da oferta parece ser substancialmente elevada (no limite, todos os produtos serão minimamente diferenciados uns dos outros) e o campo de escolha tendencialmente alargado.
“Janelas abertas sobre o mundo”, “espelhos da sociedade contemporânea” ou “catalisadores da vida sociocultural”, os media são tidos por um “quarto poder”, um “contrapoder”” ou até pelo novo “segundo poder”…
O facto é que os media ocupam doravante um espaço central na estruturação das nossas democracias

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Mário de Carvalho para reflexão



Este pequeno texto de Mário de Carvalho publicado em 2006 continua actualizado face à escuridão que nos é proposta. Queremos luz porra!



Um texto de Mário de Carvalho para reflexão, em tempos de dispersão:

"Não sei como se pode ser de direita. É viver e pensar entre zinabres, bolores e cotões. A direita não tem, nem nunca teve, princípios: tem preconceitos. A direita não tem, nem nunca teve, propostas: tem slogans. A direita não defende nem nunca defendeu causas: mas interesses. A direita não cria ideias: inventa pretextos. A direita não expressa razões: faz propaganda. A direita é a imagem do nosso atraso, responsável e promotora do que há de mais boçal, retrógrado e deprimente na sociedade portuguesa. Quando alguém se proclama de direita (e é de ressalvar que, individulmente falando, há na direita gente estimável e e respeitável a muitos títulos) assume um lastro de opressão, violência, ignomínia, mentira, obscurantismo, que pesa através dos séculos e que nos vem diminuindo e amesquinhando até aos nossos dias."
(in DN, 10.11.2006, p. 3)

Comentar Rogers


Comentar Rogers

1. Rogers escreverá uma frase, no seu livro Tornar-se Pessoa (1970), «com efeito, é paradoxal verificar que, na medida em que cada um de nós aceita ser si mesmo, descobre, não só que muda, como, de igual modo, que as outras pessoas com as quais está em relação também mudam».

Rogers interessa-se por aquilo que chama aprendizagem experiencial, cujas principais características são as seguintes (Freedom to Learn, 1976):
- A aprendizagem experiencial é antes de mais, um compromisso pessoal; e é a pessoa inteira que se envolve;
- A aprendizagem assenta nas iniciativas do estudante;
- Esta aprendizagem faz-se em profundidade e muda os comportamentos, as atitudes e a personalidade do estudante;
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COMENTÁRIO
1. A aprendizagem experiencial é, antes de mais, é um compromisso pessoal e é a pessoa inteira que se envolve;

Aprender experiencialmente é, também, saber reflectir, organizar as suas próprias representações, procurar o sentido da sua experiência, interrogar-se sobre o sentido da vida. Ora, esta reflexão experiencial é um acto absolutamente pessoal e envolve toda a pessoa (memórias ou experiências vividas, afectos e medos, passado, presente e futuro). O aluno-actor envolve-se plena e conscientemente neste teatro de vida.


2. A aprendizagem assenta nas iniciativas do estudante;

O estudante, na perspectiva rogersiana, é, antes de mais, um actor, no sentido em que ele é o centro motor das actividades e, por tentativa e erro, deve procurar encontrar as sus próprias soluções. O aluno-actor age ou actua, a partir de uma reflexão interior, feita de comparações postas em relação, ajustamentos, controlos, e sempre confrontações intra e interpessoais.

3. Esta aprendizagem faz-se em profundidade e muda os comportamentos, as atitudes e a personalidade do estudante;

Se a aprendizagem autêntica é construída e não condicionada, claro que tem um carácter de compromisso pessoal, que integra pensamentos e sentimentos, numa experiência interior capaz de transformar a pessoa e a personalidade.
O aluno-actor, neste processo de aprendizagem experiencial, sente-se chamado a descobrir as suas potencialidades e a ousar pô-las em acção, aprendendo, assim, a liberdade de ser ele mesmo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

AOS QUE VIRÃO A NASCER


É verdade, vivo em tempo de trevas!
É insensata toda a palavra ingénua. Uma testa lisa
Revela insensibilidade. Os que riem
Riem porque ainda não receberam
A terrivel notícia.

Que tempos são estes, em que
Uma conversa sobre árvores é quase um crime
Porque traz em si um silêncio sobre tanta monstruosidade?
Aquele ali, tranquilo a atravessar a rua,
Não estará já disponivel para os amigos
Em apuros?

É verdade: ainda ganho o meu sustento.
Mas acreditem: é puro acaso. Nada
Do que eu faço me dá o direito de comer bem.
Por acaso fui poupado (Quando a sorte me faltar, estou perdido.)

Dizem-me: Come e bebe! Agradece por teres o que tens!
Mas como posso eu comer e beber quando
Roubo ao faminto o que como e
O meu copo de água falta a quem morre de sede?
E apesar disso como e bebo.

Também eu gostava de ter sabedoria.
Nos velhos livros está escrito o que é ser sábio:
Retirar-se das querelas do mundo e passar
Este breve tempo sem medo.
E também viver sem violência
Pagar o mal com o bem
Não realizar os desejos, mas esquecê-los
Ser sábio é isto.
E eu nada disso sei fazer!
É verdade, vivo em tempo de trevas!


(Bertolt Brecht)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Educação


A Educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos.

(Paulo Freire)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

SINTESE DAS PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DA IDEOLOGIA FASCISTA


• Primado do Estado sobre o individuo que lhe deve ser totalmente subordinado;

• Rejeita os princípios liberais e democratas, respeitadores das vontades individuais e dos direitos do indivíduo à liberdade e à igualdade;

ESTADO TOTALITÁRIO:
• A oposição é considerada um entrave à boa governação, por isso é proibida;

• Exaltação do Estado, (para Mussolini o Estado era anterior à Nação, para Hitler o Estado emanava da raça alemã e tinha como papel a unificação e expansão da comunidade racial);

Superioridade
das elites
• Os homens não são todos iguais, por isso o governo deve pertencer aos mais capazes, aos mais aptos, aos superiores;
• Os melhores são os governantes, os soldados, as forças militarizadas, os filiados no partido fascista, os homens;
• Rejeita o valor do voto, da eleição livre.


CULTO DO CHEFE
• O Chefe é o símbolo do Estado, encarnação da Nação e guia dos seus destinos;
• Exaltava as qualidades do Chefe, atribuindo-lhe podres “sobre-humanos”;
• Utilizavam-se cenários grandiosos, com paradas, uniformes, estandartes e com uma imensa multidão levada até ao êxtase e histerismo colectivo;
• Enquadramento dos jovens, em idade escolar, em organizações juvenis (ex: Juventudes Fascistas, Juventudes Hitlerianas), onde lhes incutiam o culto pelo Chefe, a ideologia do Partido, o gosto pelo desporto, pelos exercícios militares, o desprezo pelos valores intelectuais;

ARRIGEMENTAÇAO
DAS MASSAS
• Filiação no partido único, muitas vezes a única forma de acesso aos cargos de responsabilidade;
• No ensino primário e secundário, os professores eram muitas vezes recrutados entre os filiados no Partido e deviam mostrar-se totalmente subservientes ao regime;
• São criados sindicatos fascistas, corporações e associações de tempos livres para mobilizar as classes laboriosas;
• Garantias dos privilégios à grande burguesia, exército, Igreja e intelectuais;

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Esteiros


Nos 100 anos de aniversário de Soeiro Pereira Gomes a minha humilde homenagem ao homem que com os seus escritos me ajudou na adolescência a ver o Mundo com lentes de alta graduação.

Frase a reter: Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi este livro.

Esteiros. Minúsculos canais, como dedos
de mão espalmada, abertos na margem do
Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais,
que roubam nateiro às águas e vigores à
malta. Mãos de lama, que só o rio afaga.

Gineto, Gaitinhas, Malesso, Maquineta, tantos outros, são os operários-meninos dos telhais à beira dos esteiros do Tejo. Sujeitos à dureza do trabalho quando o conseguem arranjar, vadiando ou roubando para comer durante o resto do tempo, apesar de tudo - sonham.
Esteiros é um dos textos inaugurais do neo-realismo e um romance marcante da literatura portuguesa do século XX.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

AS CAUSAS QUE CONDUZIRAM À REVOLUÇÃO DE 1820






A Revolução de 1820 constituiu um acontecimento determinante na História politica e social de Portugal. Esta Revolução inaugurou uma nova época na vida da sociedade Portuguesa.
Podemos considerar que 1820 constituiu o ponto de chegada de um processo que se iniciou muitos anos antes. Efectivamente a implantação do Liberalismo encontra-se associado à Revolução Francesa. As ideias liberais resultantes deste acontecimento começaram a ser divulgadas em Portugal nos finais do século XVIII, através de panfletos, jornais, e publicações. Os adeptos da nova ideologia eram na maioria burgueses e alguns aristocratas cultos. O poder político e absoluto procurou reprimir toda e qualquer manifestação de Liberalismo, perseguindo com alguma violência todos aqueles que partilhavam destas novas ideias. Muitos liberais refugiam-se no estrangeiro, principalmente França e Inglaterra. A partir daqui criam jornais e outros documentos que enviam para Portugal. Apesar das perseguições a adesão ao Liberalismo vai aumentar. Neste contexto temos que destacar também a importância da Maçonaria, que apesar de ser perseguida consegue aumentar o seu número de apoiantes. O Liberalismo cresce de forma lenta mas consistente ate às invasões francesas.
As invasões francesas que foram o resultado da desobediência portuguesa às imposições de Napoleão devido ao Bloqueio Continental, iniciaram uma nova etapa na expansão das ideias liberais. Ao mesmo tempo o conflito militar criou um conjunto de condicionalismos que directa ou indirectamente tiveram uma forte influência na implantação do Liberalismo em 1820. Estamos a referir a fuga da corte portuguesa para o Brasil e a sua prolongada permanência neste território. Este acontecimento provocou grandes transformações que afectaram a economia e a sociedade portuguesa, a mais importante é indiscutivelmente a promoção dos privilégios comerciais do Brasil aos ingleses pelo tratado de 1810. Este documento retirou a exclusividade comercial da burguesia portuguesa sobre os produtos brasileiros. O domínio militar inglês e a repressão que se seguiu foram também determinantes para a criação de um profundo descontentamento em relação à Monarquia e ao estado das coisas.
A tudo isto temos que adicionar a profunda crise económica do estado português que se reflectiu no sector agrícola, comercial e industrial. Todas estas condicionantes despertaram a organização de conspirações, muitas delas abortadas e reprimidas. No entanto na cidade do Porto alguns simpatizantes do Liberalismo formaram uma organização que se denominou de SINÉDRIO, nela participaram personalidades como Ferreira Alves, João Ferreira Viana, entre outros. O principal objectivo do SINÉDRIO era criar as condições para a realização de um movimento revolucionário que instalasse o Regime Liberal em Portugal, e obrigasse o rei D.João VI a regressar do Brasil. No ano de 1820 estalou uma revolução liberal em Espanha, facto que permitiu criar as condições ideais para a realização da revolução. A ausência de Beresford no Brasil foi o elemento que determinou o início da revolução em 24 de Agosto de 1820. Esta data assinalou o fim da Monarquia Absolutista e o início da época contemporânea em Portugal.

O ESTADO NOVO OU O FASCISMO PORTUGUÊS

O ESTADO NOVO começou a ser modelado em 1930 com a criação dos seus alicerces: União Nacional (1930); Acto Colonial (1930); Constituição de 1933; Estatuto do Trabalho Nacional (1933); Legião Portuguesa (1936) e Mocidade Portuguesa (1936).

Princípios políticos e fundamentos do Estado Novo:

CONSERVADOR – tem como célula base a família e como outras células fundamentais as corporações económicas, morais e intelectuais, «DEUS, PÁTRIA, AUTORIDADE, FAMÍLIA, TRABALHO»; apresentando-se a família camponesa e o mundo agrário como um modelo genuinamente português, que apesar de pobre desfrutava de uma vida feliz e segundo os valores indiscutíveis da nova ordem;
ANTIDEMOCRÁTICO – assume-se como profundamente anticomunista, antiliberal, e antiparlamentar (às eleições para a Assembleia Nacional só podiam concorrer candidatos propostos pelo regime, pertencentes à União Nacional;
AUTORITÁRIO – foram instituídos vários mecanismos de repressão, a censura que actuava implacavelmente sobre a imprensa escrita, a rádio, cinema, teatro, literatura… A polícia política, inicialmente chamada Polícia de Vigilância Internacional e de Defesa (PVDE), depois de 1945, Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). A polícia política recorreu à prisão, tortura física e psicológica e assassínio para impedir a difusão e defesa de ideais que o Estado considerava subversivos; foi ainda criada uma vasta rede de informadores, presentes em todos os lugares;
DIRIGISTA - valorização do poder executivo em detrimento do poder legislativo; a Assembleia Nacional passou a limitar-se à discussão das propostas de lei que o Governo submetia à sua aprovação; assiste-se ao reforço das atribuições do presidente do Conselho de Ministros, assim como ao culto do chefe;
CORPORATIVISTA - as corporações morais, culturais e económicas incluíam as instituições de assistência e caridade, as universidades, as agremiações cientificas, técnicas, literárias, artísticas e desportivas, as Casas do Povo, as Casas dos Pescadores, os Grémios, os Sindicatos Nacionais; as Corporações tinham assento na Câmara Corporativa que dava parecer sobre as propostas e projectos de lei a submeter à Assembleia Nacional;
COLONIAL - a constituição de 1933 afirmava que o território nacional se repartia por quatro continentes: Europa, África, Ásia e Oceânia; e integrava o texto do Acto Colonial (1930) que no seu artigo 2º afirmava: «é essência orgânica da Nação Portuguesa desempenhar a função histórica de possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles compreendam»;
INTERVENCIONISTA - o fomento económico devia ser orientado e dinamizado pelo Estado, uma economia organizada em moldes corporativos de acordo com os interesses da nação;

terça-feira, 21 de julho de 2009

O que é? Sociologia





Minha aldeia é todo o
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

(António Gedeão
)


Há domínios do conhecimento e da actividade profissional que estão instalados na vida social corrente. Fazem parte do mundo social que nos é familiar. Entram, de um modo ou de outro, no nosso dia-a-dia. Não significa isto que os conheçamos em profundidade nem que gastemos muito tempo a meditar sobre cada um deles. Mas temos uma noção da sua existência e de como nos relacionarmos com eles. Temos, a respeito deles, o que a SOCIOLOGIA chama um saber prático.
A perspectiva sociológica
A SOCIOLOGIA é uma ciência com particular propensão para a reflexividade – isto, para examinar criticamente aquilo que ela própria faz (as suas possibilidades, os seus limites, os seus procedimentos), para ponderar as condições em que faz e os efeitos da sua actividade.

Uma das coisas que a SOCIOLOGIA faz ao analisar uma questão é encará-la como um facto social. Procura, desde logo, discernir em que medida um determinado fenómeno é um fenómeno social. A análise sociológica é, sobretudo, uma análise das relações sociais. A perspectiva em que a SOCIOLOGIA se coloca ao procurar fazer luz sobre determinado acontecimento ou aspecto da sociedade consiste, antes de mais, em examiná-lo do ponto de vista do conjunto de relacionamentos sociais, de interdependências entre indivíduos ou grupos, presentes na constituição desse fenómeno social.
Um dos procedimentos típicos da SOCIOLOGIA é o de colocar os factos em estudo no seu contexto social e procurar ver que esclarecimentos é possível daí extrair.
A análise sociológica está particularmente atenta às razões que os indivíduos dão para aquilo que fazem. Procurar compreender e interpretar o sentido que as pessoas atribuem às suas acções é um dos componentes fundamentais do trabalho do sociólogo. Outro componente fundamental da abordagem sociológica consiste em investigar as causas sociais dos factos da sociedade que estuda. Quer isto dizer que tenta explicá-los em termos dos encadeamentos de ocorrências que conduzem ao fenómeno analisado e dos feixes de condições sociais que o envolvem e que, em certa medida, o determinam.
A complementaridade entre a interpretação das razoes e a análise das determinações, umas e outras convergentes na produção de um certo fenómeno social, é uma das pedras -de- toque da perspectiva sociológica.
Em todo o caso, os fenómenos sociais não se reduzem às condições sociais de que emergem e ao sentido com que os intervenientes as vivem. É ainda essencial, na perspectiva da SOCIOLOGIA, descrever a analisar os processos sociais eles próprios. E procura identificar as dinâmicas, mecanismos ou lógicas sociais típicas segundo as quais esses processos sociais decorrem e que lhes dão forma social caracterizável.
Um dos objectivos centrais da SOCIOLOGIA é, precisamente, o de procurar explicitar e decifrar a gramática da vida social.
A SOCIOLOGIA situa-se nesta articulação entre o conhecimento de todos - a experiência de vida nas sociedades contemporâneas - e o desconhecido de muitos: as lógicas ou as gramáticas do relacionamento interpessoal e da acção colectiva, da organização das sociedades e dos processos sociais.
Instrumentos da SOCIOLOGIA
Os saberes comuns, as ideias implícitas e correntes que todos nós utilizamos na vida quotidiana – nomeadamente aquelas que se referem às pessoas e à sociedade – entram, pois, de duas maneiras na análise sociológica.
Por um lado, o olhar sociológico precisa de se distanciar, de romper com o feitiço entorpecedor da evidência tranquila. Para enfrentar os problemas de conhecimento que se lhe colocam, para procurar decifrar os meandros da realidade social, não se pode permitir tomar seja o que for como certo a respeito da vida em sociedade. Não se pode dar ao luxo de aceitar sem inspecção cuidadosa toda e qualquer interpretação que as pessoas e as organizações vão fazendo acerca dos processos sociais em que estão envolvidos. A análise sociológica necessita de explicar os implícitos sociais, de questionar o pretensamente obvio, de procurar ver para além das evidências imediatas. Um dos procedimentos básicos da SOCIOLOGIA é a ruptura com as convicções preconceituosas e com as explicações simplistas que circulam na sociedade a propósito dos fenómenos sociais.
Mas, por outro lado, as ideias e opiniões que as pessoas transportam e manifestam nas suas relações com os outros fazem parte, elas próprias, da realidade social. São mesmo um componente fundamental da sociedade. Constituem, por isso, uma das principais matérias-primas do trabalho sociológico, importa, pois, à SOCIOLOGIA recolhê-las e analisá-las, procurando reconstruir os conjuntos significativos em que se organizam (as configurações simbólicas ou culturais), e relacionando-as com outros aspectos da textura social. Esses outros aspectos são igualmente muito variados. Incluem relações de poder e formas de convívio, actividades quotidianas e acontecimentos excepcionais, organizações diversas e artefactos de toda a espécie produzidos pelo homem em sociedade.
A Sociologia recolhe informação sobre todos estes – e muitos outros - aspectos da sociedade. Fá-lo através de processos de observação, conduzidos de forma sistemática e controlada. Recorre, para tal, a um conjunto de métodos e técnicas de investigação.
Outros instrumentos fundamentais da SOCIOLOGIA, porventura ainda mais importantes que os métodos de observação, são as teorias. A Sociologia dispõe de um conjunto de quadros teóricos. São sistemas coerentes de conceitos e enunciados, de grande generalidade, densidade e concisão, relativos aos fenómenos sociais. Uns têm carácter mais geral e abstracto. Outros referem-se, mais sectorialmente, a certos aspectos da sociedade.
É com base nas teorias sociológicas que é possível elaborar programas de pesquisas para investigar determinados fenómenos sociais. É a reflexão teórica que permite pegar em perguntas correntes e reformulá-las, de modo a construir interrogações consistentes sobre o social, susceptíveis de serem investigadas e analisadas cientificamente, com vista a produzir conhecimentos fundamentados a seu respeito. As teorias são instrumentos. Os sociólogos usam-nas para afinar as interrogações que colocam sobre a sociedade, para orientar as pesquisas que realizam, para interpretar as informações recolhidas por observação.
A prática da Sociologia
A Sociologia estuda a sociedade, que analisa os fenómenos sociais. É uma definição pelo objecto (de estudo).
A Sociologia é uma ciência, que investiga a realidade social segundo procedimentos científicos.
Para se ter uma primeira ideia do que é a Sociologia, é necessário, antes de mais, vê-la em acção.
Regularidades e Singularidades Sociais
A análise sociológica começa, frequentemente, com a detecção de regularidades sociais. Isto é, com a verificação da existência de padrões na vida social, padrões esses que muitas vezes nos passam despercebidos, ou aos quais não somos levados a prestar grande atenção no decurso do nosso dia-a-dia.

Análise sociológica:
A Sociologia analisa o nível social da realidade.
À Sociologia não basta descobrir regularidades sociais. É preciso tentar explicá-las.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Poder e Relações Sociais

A sociedade é composta por diversas unidades sociais e o Poder em todas está presente, a nível macro ou micro, isto é, a nível dos grandes centros de decisão, relacionados com o Estado ou com outras organizações ‘superiores’ ou supranacionais, como a UE, a NATO ou a ONU, por exemplo, ou dos pequenos centros de decisão ou micropoderes, dispersos na sociedade. Mas, quer o poder venha do Estado, quer de qualquer um desses pequenos e diversificados centros, é sempre Poder.
De qualquer modo, importa definir alguns conceitos e ver as diferenças entre eles. O poder de Estado produz leis, usa coacção física, se necessário, como algemar ou prender, enquanto os micropoderes fazem as normas e utilizam, às vezes, uma violência simbólica.
A escola, enquanto organização ou instituição, é atravessada por relações de poder, considerando-se o poder como o “potencial” de A se impor a B e levar este a fazer o que ele quer. Daqui surgem, tipologias gerais aplicáveis à escola e à sala de aula, com os conceitos weberianos de “poder” (“probabilidade de um actor impor a sua própria vontade”), de “dominação” (“probabilidade de encontrar obediência a uma ordem”), sendo a legitimidade a base desta última. Se eu aceito ser dominado é porque reconheço alguma legitimidade ao meu “dominador” para o fazer.
É, neste campo, que Weber distingue três tipos de dominação ou autoridade: a tradicional (dos mais velhos sobre os mais novos), a carismática (vinda de quem tem carisma ou qualidades excepcionais) e a legal (das normas impessoais ou leis, vindas do nível macrossocial – Estado, autarquias- ou do nível microssocial – normas das pequenas organizações, como a escola, por exemplo). E daqui emergem os aspectos que se referem ao controlo, à dependência e à desigualdade, isto é, ao modo de conceptualizar “o poder “enquanto relação essencialmente assimétrica”, ou absolutamente desigual. Em síntese: quando há poder de A sobre B, este, o dominado, não é livre, nem independente, nem igual .

quarta-feira, 15 de julho de 2009

"O Âmago da Comunicação Educativa"

SÍNTESE do Ensaio
"O Âmago da Comunicação Educativa"
De Bento Duarte da Silva
Universidade do Minho (Portugal)

1.O título, só por si, já nos introduz no centro da questão em debate: a relação interactiva entre processo educativo (PE) e processo comunicativo (PC). É impossível separar educação e comunicação, isto é, tentar ver que uma possa existir sem a outra. A conclusão parece evidente: não há educação sem comunicação e vice-versa. Como poderá ser possível compreender, mesmo de forma abstracta, que qualquer pessoa possa comunicar sem qualquer aprendizagem? E, da mesma forma, como poderá ser possível que qualquer pessoa possa aprender seja o que for sem qualquer espécie de comunicação? A resposta parece evidente e, por isso, relacionamos o PE com o PC, em interacção mútua, não sendo possível analisar um sem a presença do outro.

Como atingir então o centro dinâmico (" o âmago") desta relação interactiva, isto é, o lugar onde os dois processos se encontram e se auto-influenciam ou, se quisermos, o lugar onde educação e comunicação se amam e compreendem que são inseparáveis para a toda a vida e que a morte de uma supõe a morte da outra?

2. Após uma definição de sistema como "conjunto", "estrutura" ou "complexo", ou seja, complexidade de elementos interactuantes, o autor desenvolve três caminhos possíveis de compreensão desta relação "amorosa" entre a comunicação e a educação: o primeiro, centrado nos diversos modos de comunicação; o segundo, nas dimensões da comunicação didáctica, isto é, na própria prática do ensino-aprendizagem; o terceiro, referindo-se aos critérios de eficácia da Comunicação Educativa.

2.1. O universo educativo pode subdividir-se em três sectores ou três extensões: a formal, a não formal e a informal.
A extensão formal compreende a "educação escolar ou sistema de ensino e desenvolve-se por níveis ". Isto significa que, por exemplo, em Portugal, a educação formal é constituída pelos Jardins de Infância, Ensino Básico, Secundário e Superior.
A educação não formal poderá ser educação extra-escolar e atende a "educação permanente e de adultos, animação sociocultural, educação para os tempos livres, desenvolvimento comunitário, reciclagem e reconversão profissional, etc ." Poderíamos incluir, nesta educação não formal, por exemplo, as universidades da Terceira, os cursos de teatro, música, dança, artesanato, culinária, etc., que, felizmente, vão surgindo cada vez mais pelo país.
A terceira extensão, denominada informal, atravessa, de certo modo, as duas anteriores. Apesar de não ser "metódica, estruturada, consciente, intencional" ou de não partir de uma "definição prévia de objectivos ou finalidades pedagógicas", manifesta-se na família e no ambiente comunitário circundante. É no seio da comunidade em que vivemos que assimilamos os referências fundamentais que nos servem de suporte, quer para a comunicação (linguagem, vocabulário, etc.), quer para a educação (aprendizagem de valores, objectivos, hábitos culturais, etc.).

2.2. No Sistema Educativo , falamos de quatro níveis ou contextos da comunicação: intrapessoal, interpessoal, grupal e cultural.
- o intrapessoal ( auto-comunicação, isto é, comunica consigo mesma);
- o interpessoal ( entre dois indivíduos ou diálogo);
- o intergrupal (entre vários indivíduos, num contexto físico próximo);
- o cultural ou de massa, entre uma pessoa institucionalizada (meio de comunicação social) e um grande número de pessoas, o público, que utiliza o respectivo meio. Aqui é difícil identificar a origem e o destino das mensagens. É o caso da TV, da imprensa, do cinema...
2.3. Poderemos falar da relação espaço-temporal (mesmo tempo – mesmo lugar, variando o tempo ou o lugar ou os dois), da relação entre Emissor e Receptor (em presença/ à distância / /directo /diferido) e no grau de formalidade pedagógica ( hipercodificação – uso palavras "caras" / hipocodificação – uso palavras simples, que todos compreendam).


(Cf. SILVA, Bento (2000). Âmago da Comunicação Educativa. Cadernos do
Noroeste , Comunicação e Sociedade 2. Série Comunicação, vol. 14 (1-2), pp.
689-710.)

Edgar Morin

L’ESPRIT DU TEMPS , DE EDGAR MORIN
O ESPÍRITO DO TEMPO - 2 NECROSE, DE EDGAR MORIN
Cultura de massas no século XX
Elementos para uma Sociologia Contemporânea da Cultura de Massas.

Resumo/Abstracto
Típica dos anos 60, a noção de “cultura de massas” é, ao mesmo tempo, datada e vaga.
Estabelece um jogo de conceitos para a análise das formas contemporâneas dos produtos da indústria cultural. Depois de uma primeira parte consagrada a pôr em evidência a pertinência do Espírito do Tempo para a fundação de uma sociologia da cultura de massas, o artigo propões, numa segunda parte, uma actualização dos conceitos de ambivalência, de mito, de reversibilidade e de ambiguidade.

PALAVRAS-CHAVES:
REVERSIBILIDADE
AMBIGUIDADE
AMBIVALÊNCIA
REALIDADE
INDÚSTRIA CULTURAL
MÉDIA
ESTÉTICA
DEMOCRACIA
COMUNICAÇÃO
IMAGINÁRIO COLECTIVO
CONSUMO
INDIVIDUALISMO
FELICIDADE
MITO
CULTURA DE MASSAS

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O FUTURO

Se pudermos adquirir depressa uma sabedoria suficiente, o futuro do homem pode ser mais feliz. Escolhi esta frase de Bertrand Russel para abertura à discussão sobre temas que dominam o nosso meio social.